Carnaval do Rio Equivale a uma Copa do Mundo

Leia a matéria do Valor Econômico: Arquivo original: Valor_Economico_Carnaval   Por Paola de Moura

A cada ano, o Rio de Janeiro realiza um evento equivalente a uma Copa do Mundo. Em 2012, a Riotur prevê que a cidade receba 850 mil turistas, sendo 250 mil estrangeiros. Mas esta previsão pode ser superada já que, no ano passado, foram estimados 740 mil visitantes e chegaram ao Rio um milhão de turistas.

Em 2010, na África do Sul, 3,178 milhões de pessoas estiveram no país, distribuídas em nove cidades. A cerimônia de abertura da Copa, no Soccer City, em Johannesburgo, recebeu 91 mil pessoas e a de encerramento, 89 mil. O novo Sambódromo terá a capacidade de 70 mil pessoas, sem falar no público que desfila nos blocos de rua e assiste às agremiações dos grupos C, D e E na Zona Norte.

Segundo Luiz Carlos Prestes Filho, superintendente da Secretaria de Desenvolvimento Econômico do Estado do Rio e autor do estudo "Cadeia produtiva da economia do Carnaval", se a cidade receber 850 mil turistas, eles vão gerar mais de R$ 700 milhões em receita. A Riotur estima R$ 1,2 bilhão. Os setores mais beneficiados, segundo pesquisa coordenada por Prestes, são o de transporte (32% dos gastos), alimentação e bebidas (29%) e de eventos e compras (29%).

No setor hoteleiro, por exemplo, a expectativa é de que a ocupação chegue a 96% - a média é de 83%, no verão carioca. Hoje está em 91%. O dado é parecido com o do ano passado, quando os hotéis tiveram 95% de seus quartos ocupados.

Mesmo assim, a rede hoteleira deve arrecadar bem mais. Segundo o Sindicato de Hotéis, Bares e Restaurantes do Rio de Janeiro (Sind-Rio), os preços dos pacotes de hospedagem estão em média 17,6% mais caros do que em 2011. Pedro de Lamare, presidente do Sind-Rio, diz que os turistas já estão vindo mais para o Carnaval do que para apenas curtir a cidade. Por isso a ocupação nos hotéis que ficam nos bairros como Flamengo, Botafogo, Santa Teresa, Catete, Glória e Largo do Machado terão ocupação maior que os tradicionais de Copacabana, Ipanema e Leblon. "Os viajantes brasileiros, que em geral vêm em busca do Carnaval de rua e da Marquês de Sapucaí, estão descobrindo que esses bairros oferecem ótima localização, sistema de transportes e conforto, além de, algumas vezes, preços mais acessíveis", diz Lamare.

Para Prestes Filho, o Carnaval deve ser considerado pelo Estado como uma indústria estruturante, principalmente no Rio, onde ele acontece com grande impacto econômico todos os anos. "Se temos a indústria do petróleo - claro que com um peso muito maior - a indústria da moda, temos também a do Carnaval", diz ele.O Carnaval vem se tornando tão importante para a cidade que agora já existem três frentes organizadas para a realização do evento, diz Prestes Filho. A primeira é o desfile das grandes escolas na Marquês de Sapucaí. Cada escola não gasta menos do que R$ 5 milhões para colocar passistas e carros alegóricos no Sambódromo. Em contrapartida, elas receberão juntas R$ 73,2 milhões em venda de ingressos, de CDs, de direitos de TV, de fantasias e de patrocínios entre outros. Sem contar os R$ 9,4 milhões que ficarão com a Liga Independente das Escolas de Samba (Liesa).

A segunda é a dos blocos. Nos últimos anos, vêm atraindo cinco milhões de pessoas. Neste ano, os desfiles ganharam grande estrutura da Prefeitura com a reorganização dos locais onde se apresentam, com horários para começar e terminar. "Acabou o improviso, os blocos também viraram uma indústria", diz Prestes Filho. Este ano, serão 425 blocos.

O novo foco de atração de turistas é o desfile de 40 escolas de samba dos grupos C, D e E, que desfilam na Estrada Intendente Magalhães, em Madureira, na zona norte do Rio. "Hoje, cerca de 50 mil pessoas assistem a estes desfiles no domingo, segunda e terça-feiras de Carnaval". O Carnaval desses grupos cresce tanto que o prefeito já estuda construir ao lado do atual Sambódromo uma Passarela Popular do Samba. A ideia é ter o espaço pronto já em 2014.

O Carnaval cresceu tanto que o próprio carioca deixou de viajar no feriado para aproveitar os desfiles. Há cerca de 10 anos, a cidade ficava vazia neste período. A maior parte da população viajava. Havia várias promoções: as redes de cinema, por exemplo, chegavam a cobrar metade do preço pelo ingresso. Hoje isso não ocorre mais. Prestes, autor da comparação do Carnaval com a Copa do Mundo, dá o exemplo do esforço necessário para o governo organizar todos os três pilares. "A Polícia Militar fica toda de plantão e presente nos desfiles para evitar roubos e confusões, os engenheiros da CET-Rio precisam organizar o trânsito e informar a população, os hospitais reforçam o atendimento. É toda uma operação similar a que acontecerá no mundial de futebol e fazemos isto todo o ano", enfatiza. Só o governo municipal investirá, este ano, R$ 27,4 milhões na organização do evento.

(Colaborou Guilherme Serodio)